jueves, 11 de junio de 2009

Me quedo

Todavia sigo acá. He trabajado, estudiado, vivido y todavia no he amado. Ellos se vienen, se van y yo me quedo allá, delante del río. El rey de oro está delante de mí y no lo veo. Cómo? Se fue o sigue? Cómo no veo si tengo mis ojos siempre abiertos para esto. Dónde está? Y mi regalo? La plata se va y no viene más. Ni pesos ni reales. Y sigo acá, en un nuevo departamento donde siempre tenia ganas de vivir, intentando hablar, piensar y escribir en español.

viernes, 15 de mayo de 2009

Coxinhas x empanadas

Como boa brasileira, passo muito tempo falando como o meu país é melhor. Nunca pensei que fosse tão bairrista, mesmo sendo recifense e morrendo de saudade dos shows que antes esnobava em Olinda. Só fui me dar conta de verdade desse meu bairrismo domingo passado. Depois de passar tanto tempo reclamando que aqui só tinha empanada e que eu mataria por uma coxinha, acabei descobrindo um bar perto de casa onde um brasileiro (que curiosamente estuda documental comigo) fazia coxinha e feijoada pra vender. Fui com todas as minhas expectativas comer a tão sonhada coxinha, melhor, até então, do que qualquer empanada. Massa, comi a coxinha. Comi, e descobri que posso perfeitamente viver sem ela. Não saíram fogos, o gosto era o mesmo. Muito bom, porém muito pior do que o sonhado. Continuo preferindo a coxinha a qualquer empanada, mas posso viver sem ela. Meu medo, quando voltar, vai ser descobrir que o queijo de coalho não é o melhor queijo do mundo e passar a ter saudade do alfajor. Um pé lá e outro cá, e outros pés que me confundem ainda mais.

P.s. Leiam esse texto de Idélber Avelar http://www.germinaliteratura.com.br/coluna_idelberavelar5.htm, ele fala de tudo que falei de uma forma bem melhor. E sim, eu sou do tipo nostálgico.

domingo, 3 de mayo de 2009

Tarô em Tigre e os avessos em mim

Tigre é uma cidade linda do lado de Buenos Aires. Você paga 2,70 pesos e vai e volta da Estação Retiro até lá. São cerca de sessenta minutos de viagem e eu não tinha pensando em ir lá antes de Camila chegar.
Fomos eu, Fábio e Camila e resolvemos comprar comidinhas pra comer na beira do rio enquanto Camila colocava o tarô pra nós dois. O resultado foi muito bom e me ensinou que eu devo olhar pra os lados sempre, pois posso ter um Rei de ouros me esperando e estar cega pra tudo que está fora do meu padrão de previsibilidade e espera. Fora o charme que é ter o tarô colocado em tigre na beira do rio por uma amiga, percebi que aquela viagem e os dias que convivemos aqui serviram pra muita coisa, pois muito do que tinha deixado de aproveitar por esperar algo ideal acabou se mostrando bem menos importante do que eu achava e está vindo a tona agora.
Quando cheguei achei que essa era a terra dos avessos, continuo pensando assim, mas perdi o medo desse avesso e de discordar de quase tudo. Quando vim tinha idéias fixas e formadas por um outro lugar, ou por outros lugares. Agora me vejo gostando de coisas que nunca pensei que iria aceitar e defendendo fervorozamente o que neguei tempos atrás.

domingo, 15 de marzo de 2009

Avenida Independência - alemão, português e espanhol

Agora me localizo na Avenida Independência, entre a Defensa e a Passeo Colón. Essas avenidas, pelo que tenho percebido, não são daquelas que atravessam a cidade. Comecei a aprender algumas coisas, por exemplo, quando vejo que algo é na Córdoba não penso mais que o lugar é perto. Aqui a disposição das ruas é diferente do que eu estava acostumada, e elas atravessam bairros, muitas vezes todos os que estão no mapinha para turistas que me entregaram no primeiro hostel. Ás vezes parece que vivo em uma cidade diferente da dos outros, me disseram que aqui existem balanças, e até agora eu só vi uma. Talvez seja porque vivo em San Telmo, e estou me sentindo uma moradora desse ilustre bairro porteño. Saí para passear na feirinha hoje pela tarde, e orgulhosa, já reconheço duas ou três pessoas além do velhinho que sempre entrega panfletos em frente ao La Parrilla. A noite aqui é maravilhosa, mas só começa depois das duas da manhã. O único problema para resolver essa noite é tentar explicar aos porteños que eu e Fábio somos apenas amigos. Nós sempre tentamos arrumar uma maneira de deixar isso claro, seja através de longas idas ao banheiro pela parte de Fábio, enquanto atraio chilenos para a minha mesa, seja nos perguntando se figuras estranhas presentes no Guebara se aproximam procurando algo mais "profundo" comigo ou com ele. Nós estamos concluindo que esse é o país dos avessos. Um dia desses, em uma boate em Palermo, vimos vários cafuçús de boné e bermuda claramente pertencentes ao mundo gay e muitos homens que pensávamos que estavam dando pinta devidamente agarrados com garotas. O estilo, também, é uma coisa me me aflige. Descobri que tudo o que eu usava em Recife não tem a menor serventia por aqui e ontem, no Guebara, até ouvi um sedutor "Bienvenida a Buenos Aires" dito por alguém que pelos meus trajes percebeu que daqui eu não era. Minha maior ambição, que era me mesclar, acabou sabotada pelos meus sapatos, cabelos e vestidos. Bem, na verdade não me sinto tão sabotada. Estou finalmente descobrindo o que é ser extrangeira e isso, na boa, tem as suas vantagens. Sentar com um argentino, um chileno ou um uruguaio são descobertas tão boas que valem mais que qualquer foto em frente ä Casa Rosada. E descobrir as diferenças de sotaque tem sido um desafio adorável pra mim. Um dia desses, fui ver um apartamento que tinha uma vaga aqui perto, na verdade eu fui mais porque fiquei curiosa pra conhecer o dono. Cheguei lá e quando ele descobriu que eu era brasileira disse: que maravilha, adoro o Brasil, morei um tempo em São Paulo e no Rio de Janeiro e adoro falar português, vamos conversar em Português? Eu já respondi no meu idioma, ele ficou sério, respondeu um sim em alemão e disse que não queria mais falar em português porque estava aprendendo alemão, pois tinha engravidado uma menina de lá com quem transou uma vez e se muda dentro de duas semanas, com direito a cama e roupa lavada. Para variar, perguntou se Fábio era meu namorado, eu disse que não, ele falou ainda bem, por que moram mais dois homens aqui, eles são lindos e poderiam ficar com ciúmes. Momentos non sense e vontade de casar com ele, afinal, de português para espanhol já temos meio caminho andado. Morar lá não deu certo, até porque minha moeda é fraca e ele me pareceu muito fértil, acabei alugando o apartamento (lindo, por sinal!), mas viramos vizinhos. San Telmo! Adoro essas rendondezas e essas caras que começam a ser repetir! E por favor que se repitam, sempre!

jueves, 12 de marzo de 2009

Cuatro Whiskes y Mafalda

Hoje tudo parece melhor. Acredito que finalmente estaremos em um apartamento amanhã. Em San Telmo!!!! Só digo acredito, e não que estaremos, porque já tô com medo de me alegrar nessa parte. Mas o apê é lindo e está só 25 dólares fora do nosso orçamento, o que vai sacrificar algumas coisas, já que o dólar aqui vale 3,67 pesos. Mas poucas coisas, espero.

Bem, no mais, tá tudo melhor. Já estou me apaixonando pela cidade. Esse mau humor, inclusive, e essa minha bipolaridade constante são bem a cara disso aqui. É tudo caótico, contraditório, mas muito encantador. Parece que aos poucos entendo a cidade e procuro sentindos distintos para coisas muito parecidas.

Mafalda se fez bem presente em toda a viagem e hoje, no metrô, entendi um pouco mais. Eu já adorava os quadrinhos de Mafalda no Brasil, mas aqui, em sua terra, eles fazem ainda mais sentido. Tinha um quadrinho dela pintado na parede onde ela mostrava o globo terreste a um bichinho de estimação e comentava que ele era lindo, mas só uma maquete, pois o real não era daquele jeito. Aqui eu vejo muito isso. Muitas Mafaldas espalhadas pela rua. O ônibus, por exemplo, é um resumo desse caos. O país não tem moedas, pois todas estão presas e são vendidas por preço altos, mas os ônibus só se pagam em moedas. E não existem trocos em moedas. Todos os dias acordo e penso: como conseguir mais moedas? Consigo, não sei como.

O mais complicado é que vivi toda a minha vida sem nunca ter saído de um país caótico. O Brasil é caótico e tem problemas semelhantes que já estão naturalizados em mim, então por que questionar esse pequeno caos? Porque ele se parece e é oposto. Um oposto, muito mais melancólico do que otimista, e ao otimismo estamos acostumados.

Eu lembro muito que antes de vir Fábio me mostrou um filme recente aqui da Argentina, Los Guantes Mágicos. Ainda brincamos aqui dizendo, será que um dia vamos chegar em um bar e pedir "Cuatro Whiskes"? Como a mulher do filme? Quando chegamos aqui entemos melhor, como a noite começa muito tarde (anoitece as 21h), todo mundo sai de casa as duas da manhã. Então os bares (que acredito serem a maior fonte de renda da cidade) fazem uns Happy Hourd onde tudo vem em dobro. Mas os "Cuatro Whiskes" no máximo viraram "Dos cervezas". De um litro, casi siempre!!!!

martes, 10 de marzo de 2009

Faz uma semana e meia e parece que fazem meses. Hoje, feliz, bati papo com o garçom do Aconcágua, começo a me sentir em casa e a repetir padrões, comer em Buenos Aires: só em lugares como lá. Me sinto tendo encontrado o que queria viver por aqui, e juro que o que quero viver está em San Telmo. Parece que eu estou em Olinda, só que graças a Deus sem as ladeiras, com um sol mais ameno e com a Casa Rosada a 5 minutos. As lojinhas são lindas e entre as 13h e as 16h é normal encontrar bilhetinhos na porta que dizem: Voltamos em 30 minutos. Parece um sonho, o mercado público é aqui do lado e os cogumelos daqui custam 5 ou 6 pesos o pacote. E que cogumelos!!!!! Nas ruas por trás da Defensa, encotramos vários restaurantes onde o prato custa 10 pesos, a comida é farta (apesar de sempre ser acompanhada por papas fritas ou purê e só) e a carne grita de tão deliciosa e sangrenta. As verduras são lindas e as frutas enormes, mas custam pelo menos o triplo do que custam em Recife. Suco aqui? Jugo de Naranja, 10 pesos - o que pago pelo almoço. Mas o garçom do Aconcágua nos dá água free e pãezinhos por 2 pesos, isso, por aqui, são os 10%.

Resumindo, tudo melhorou depois dos 4 longos dias no centro. Às voltas com señoras como Dona Lida, tentando arrancar os escassos dólares que me restaram e os pesos que rendem bem menos depois de convertidos, resolvemos vir pra cá e tentar. Aluguel por aqui é um roubo, então estamos em um Hostel até que minhas calcinhas limpas acabem. Hostel não dura muito, e são 8 pessoas em um quarto. Grande, ventilado, mas com muitos buracos negros onde sempre acabam indo parar minhas chaves, sapatos, casacos e paciência. Yo quiero un piso! E quero colocar o pôster de Al Pacino fumando um cigarro dentro da nota de um dólar e dizendo: I trust me. Já sei onde comprar o pôster aqui em San Telmo e posso comer um pancho no almoço para pagar seus 10 dólares.

O pôster eu posso ter, mas o departamento até agora tá difícil. Preço de tudo isso: 500 dólares o mês, mais comissão de 500 dólares para Dona Lida, que nos beija e chama de seus netinhos, e 500 de garantia, que serão devolvidos quando formos embora. Isso, dividido entre mim e Fábio, dá muito dinheiro. Tanto em pesos, quanto em dólar ou em real. Isso por que somos seus netos, e porque Pancho baixou o aluguel de 700 para 500. Mas eu tenho força e espero que em breve uma Precária, as lojas daqui sempre precisam de vendedores, e eu posso ser a próxima a deixar o bilhetinho na porta, comer uma saladinha no mercado (a comida do Aconcágua é ótima, mas o povo aqui é magro), esperar que alguém chegue e - arranhando no espanhol, inglês ou francês -vender uma blusinha e gastar a grana no La Resistência.

lunes, 9 de marzo de 2009

Primeira impressão - Cerca del Obelisco

Cuando empiezo a hablar acá siempre digo: yo pienso, y sigo...

Sempre começar falando eu penso, foi a minha primeira dificuldade por aqui. Em português posso usar o acho, que me coloca em uma posição menos definida. Aqui, ainda não consegui criar sutilezas e meios termos. O que me deixa mais confortável é o fato de que eu não esperava nada, mas quando cheguei quase volto, por que até pra o pouco que imaginava me assustei de cara.

Bem, vou contar logo o primeiro impacto, depois as coisas melhoram.

Quando cheguei quase morri de desgosto, cansada depois de 12 horas trocando de avião e tentando dormir (no que fracassei até quase o último momento), cheguei no hostel que parecia lindo nas fotos. O quarto era mínimo e eu tropecei em tudo o que pude, além disso, a super lotação de 10 pessoas não deixava espaço pra mais nada. Quando cheguei ao hostel, na Viamonte, no centro, e entrei naquele quarto terível, dei de cara com um pé cor-de-rosa que passou a me perseguir na longa estadia de 4 dias por lá. Cansada, mas sem agüentar mais ver o pé do inglês saí pelo centro de Buenos Aires.

Bom, essa foi minha primeira viagem com direito a Dutty Free, e não comprei nada. Como amadora nesse tipo de coisa, coloquei uma roupa bem feia e aquele porta dólar que já virou parte do meu corpo. Quase morri quando descobri que o centro daqui é chique e caro. Eu parecia uma gringa louca de havaianas, e as Galerias Pacífico, meu ponto de almoço bem próximo ao hostel, abrigavam gente linda e bem vestida.

Comi, detestei o almoço (aqui você só tem direito a carne e um acompanhamento, que geralmente varia entre purê de batata e batata frita) e voltei para vestir algo decente. Meu primeiro passeio foi chique e anoréxico. Fui na Recoleta, andei na feirinha, no parque e no cemitério onde Evita foi enterrada. Fiquei sem paciência, não achei o túmulo famoso e sentei em um café com uma Quilmes bem grande. O dia estava quente, e a cerveja foi ótima. Beleza, voltei ao hostel e descobri que os argentinos são muito mais cafuçús do que eu pensava. Bonuda, estoy lôco, são expressões facilmente ouvidas por uma mulher que caminha na Recoleta.

De noite, Fábio chegou. Descobriu logo que os argentinos são excelentes fotógrafos e que o pé do inglês iria substituir a visão do Obelisco. Saímos, bebemos, e dormimos cedo, morrendo de cansaço. No mais, um péssimo começo e divagações cheias de encanto em torno de uma cidade que aos poucos foi se abrindo pra mim.